Entrevista com o autor Nano Fregonese


Bússola Literária bateu um papo com o escritor Nano Fregonese, que é autor do livro "Um sono de mil camas". A obra literária é nossa sugestão de leitura do mês de março e conta a história do Daniel, que vive sem perspectiva em uma rotina estagnada, porém, a insonia trará um novo olhar do mundo. Seriam alucinações ou um sonho real?

Confira a entrevista: 


O livro foi inspirado nas artes do ilustrador Renato Faccini. Como foi esse processo de criação?

O Renato é um ilustrador incrível e seus desenhos são super inspiradores. Além disso, na época que o livro foi escrito, o Renato morava aqui em Curitiba e a gente sempre saia pra tomar uma cerveja e colocar o papo em dia sobre cinema e quadrinhos. A partir dessas conversas, veio a ideia de criar uma obra ilustrada, com base em um tema que estava na cabeça dele: a insônia. Naquele tempo, nem ele e nem eu tínhamos sonos muito tranquilos. Achamos uma coincidência engraçada e vimos que tinha pano para manga ali. Então ele me mostrou algumas das suas ilustrações e a história começou a se formar quase que como mágica na minha cabeça. Parti para a pesquisa e disso veio aquele Egito mitológico e todas as outras maluquices de "Um Sono de Mil Camas".


A obra apresenta um Egito fictício, mas totalmente envolvente e enigmático. Você fez alguma pesquisa antes de escrever? Como surgiu esse cenário?

Tínhamos essa vontade de que um dos personagens centrais fosse um "Príncipe Egípcio", mas não fazíamos ideia de como a realeza funciona de verdade no Egito Antigo, como eram as castas sociais ou como eram os hábitos. Por causa disso, a pesquisa foi muito necessária e revelou curiosidades muito interessantes, como o hábito de se caçar hipopótamos. Juntei diversos livros de história, pesquisei na internet e fui atrás de referências em HQs, como a história do Apocalypse, dos X-Men, mas a obra que mais me ajudou foi um pequeno livro chamado Guia do Viajante Pelo Mundo Antigo. Esse livrinho é como um guia turístico, só que por países da antiguidade. Muito bacana!


O livro traz reflexões sobre o cotidiano ao misturar passado e presente. Temas como depressão e bullying são tratadas com leveza e humor, sem perder a seriedade. Tem traços da ficção apresentada na sua vida real? O que o livro e você têm em comum? 

Eu sou introvertido e, enquanto crescia, tive momentos bem chatos por ter gostos diferentes. Além disso, sou um tanto nerds. Adoro cultura pop e jogo RPG até hoje e isso, lá na década de 90, estava longe de ser considerado algo cool. Então, sim, eu tive que conviver com certos aspectos do bullying que me marcaram pelo resto da vida. Ao mesmo tempo, isso me ensinou que certas coisas só vão embora quando a gente se levanta e revida, quando a gente enfrenta. E foi principalmente isso que quis transmitir ao longo da jornada do Daniel e da sua transformação.


A obra foi escrita em 2011, mas só foi entregue ao público 5 anos depois. Foi difícil controlar a ansiedade ou rolou uma insônia como no livro?

Esse livro tem uma história engraçada porque acabou sendo escrito muito rapidamente, mas depois ficou anos na gaveta. A ideia inicial era fazer uma Graphic Novel com o Renato ilustrando todas as páginas. O problema é que o mundo está sempre corrido e a procura pelos trabalhos do Renato é muito grande, então a coisa foi sendo adiada, adiada, até que um dia eu senti um impulso de dividir aquela história... foi como se os personagens tivessem me dito: "Cara, a gente não nasceu pra ficar na sua gaveta". Então teve esse lançamento discreto, mas que gerou sua dose de insônia, sim (Risos). Quem sabe um dia essa versão ilustrada finalmente nasce? (Risos)

Na literatura, tudo é possível. E na vida real? Qual é o seu sonho? Você o considera impossível?

Pergunta difícil (Risos). Eu acho que tudo pode ser alcançável, se a gente trabalhar para isso e os deuses ajudarem um pouquinho. Já tive muitos sonhos, alguns bastante imaturos. Hoje substituí a maioria deles por objetivos, mas não deixei de sonhar. Sonho em ter uma vida plena, com aprendizado, família e um trabalho que eu ame fazer. Sonho em ver o Brasil se tornar um país de leitores e escritores. Criatividade pra isso a gente tem de sobra. Sonho em escrever mais e tocar mais pessoas por meio dos meus textos também. Se considero impossível? Não! São difíceis, sim, mas não impossíveis.

Você está escrevendo novas obras? Alguma novidade quentinha para contar?

Vish! Estou com alguns projetos ao mesmo tempo, em diferentes etapas. A maioria das histórias de ficção estão na forma de rascunhos e tenho um livro de não-ficção em andamento, então ainda não faço ideia de qual nascerá primeiro (Risos). Mas vou dar um chute: acredito que ainda em 2018 teremos um livro sobre storytelling aplicado à vida ou então uma história de terror psicológico dentro do Jardim do Éden.

Sugestão de leitura para o mês de março de 2018

Livro: Um sono de mil camas
Autor: Nano Fregonese 
Gênero: Fantasia / Mitologia

Sinopse: As coisas não andam muito bem para Daniel.
Sua carreira estagnou, a mulher que ele adora mal sabe que ele existe e aquela porcaria de insônia não dá sinais de que vai aliviar.
Ele não sabe mais o que fazer para se dar bem no jogo da vida.
O pobre homem até mesmo já abriu mão dos seus sonhos... mas parece que os seus sonhos não abriram mão dele.
Ainda não.
Enquanto isso, em outra realidade, um príncipe egípcio que não consegue dormir decide ir até as últimas consequências para honrar os deuses e conquistar o seu tão desejado descanso.
Mas qual é a ligação entre ele e Daniel?
Descubra nessa obra cheia de referências, que mistura psicanálise, HQs, escritores malditos e lendas egípcias em uma trama que tenta entender a origem dos sonhos e o papel que eles desempenham em nossa vidas.

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Palavra do editor - Fevereiro de 2018

Imagine que, em 2070, a atmosfera do planeta foi intoxicada e a salvação seja sobreviver em túneis subterrâneos. Parece um livro tradicional de ficção científica, mas a obra "A Fortaleza: Mundo Sombrio", que é nossa indicação para o mês de fevereiro, vai além disso. Primeiramente, é interessante inserir a formação da autora no contexto. Conforme ela contou em entrevista para o Bússola Literária, ela é psicóloga e traz na narração os sentimentos dos personagens com maestria, tornando a história ainda mais envolvente.

Resumindo, o livro apresenta um grupo de rebeldes liderados por Camille. Eles vivem fora do sistema imposto na Fortaleza nº 7, onde pessoas selecionadas vivem no conforto. Acontece que, durante uma missão de resgate, a equipe salva a vida de um desconhecido e misterioso prisioneiro. mudando o destino de toda a raça humana.

Gostei das estratégias militares utilizadas pelos personagens e até mesmo das cenas de luta, que são bem detalhadas sem perder o realismo. Assumo que adorei a leitura exatamente por não conseguir prever o fim. Apesar de todos os elementos apresentados mostrarem o destino do livro, há sempre um ar de "o que vai acontecer no próximo capítulo?".

Cada personagem da trama carrega sentimentos próprios e é bem construído. Outro detalhe interessante é o fato de que, apesar do cenário contar apenas paredes e corredores, a autora conseguiu nos inserir nesse universo com detalhes da rotina deles, com descrição da estrutura dos túneis e com inserção de sentimentos diante da escuridão. No fim, você experimenta o medo e ansiedade deles e não sente falta dos universos rebuscados tradicionais de livros de fantasia e ficção científica.

Normalmente, em situações de caos, os escritores evidenciam violência e o lado sujo do ser humano. Neste livro, a autora apresenta um novo olhar, criticando esse ódio e fortalecendo os laços de amizade e amor. Sim, o livro traz relatos de torturas e contém assassinatos, mas sempre tratados com leveza e com reflexões sobre o valor da vida.

No fim, o destaque da obra seria o sentimento de esperança. Desperta o respeito ambiental e a preocupação com as relações internacionais e até mesmo avanços científicos. Indico a obra para todos que adoram aventura e romance. 

Entrevista com a autora Day Fernandes


A Bússola Literária bateu um papo com a escritora Day Fernandes, que é autora do livro "A Fortaleza: Mundo Sombrio". A obra literária é nossa sugestão de leitura do mês de fevereiro e conta a história de sobreviventes da sociedade em 2070, que, para fugir da radiação, vivem em túneis militares subterrâneos.

Confira a entrevista: 


Para começar, fiquei curioso. O que significa o símbolo da capa?

(Risos) Boa! O símbolo no centro representa a célula do Gênesis, e as riscas representam as artérias sanguíneas pelas quais ela se espalha. 


Os seus personagens vivem conflitos bem construídos e expostos com leveza. Você acha que a psicologia influenciou na construção da narração?

Com certeza. Os conflitos apresentados simbolizam não apenas os obstáculos externos, mas também aqueles internos enfrentados por cada um dos personagens à sua maneira. Inclusive a psicologia foi o que me permitiu demonstrar os diversos comportamentos humanos frente uma mesma situação, levando em conta os instintos, as experiências de vida e os desejos futuros de cada personagem. 


A escuridão dos túneis tem um simbolismo forte na ambientação do livro. Você acha que a sociedade está caminhando rumo ao "mundo sombrio" que você criou? 

A escuridão dos túneis é a mesma que existe dentro de cada um de nós. Infelizmente, penso que está de fato ocorrendo um desequilíbrio na humanidade e essas sombras estão nos engolindo dia após dia, de dentro para fora. Acredito que todos nós carregamos parcelas iguais de um potencial criativo e destrutivo em nosso interior, qual dessas parcelas alimentar é uma escolha nossa. E vejo que muito tem escolhido o lado negro da força. 


A capitã Camille guarda consigo os diários do pai. Se você estivesse presa na Fortaleza nº 07, o que você não abriria mão de levar antes da destruição do planeta?

Acredito que papel e caneta (Risos). E meus óculos, com certeza. 


Qual foi o principal desafio ao escrever essa obra literária? Você precisou pesquisar a fundo sobre algo?

Escrever o Fortaleza foi desafiador em muitos aspectos, desde o gênero, bem pouco explorado no cenário nacional, ainda mais por mulheres, até montar todas as peças do quebra-cabeça de forma satisfatória. As pesquisas foram a parte mais demorada do processo, pois eu optei por utilizar teorias nas quais houvessem de fato algum tipo de probabilidade real. Isso acontece por exemplo, na própria questão do Gênesis, que de fato existe (com outro nome), e foi encontrado pela primeira vez em Chernobyl. O soro do terror também não é uma novidade e muitos dizem ter sido testado durante a Segunda Guerra Mundial. Entre outros detalhes, inclusive até personagens. 


Você já está escrevendo a sequência do livro. O que os leitores podem esperar da continuação dessa grande luta pela sobrevivência?

Sim, a sequência já conta com alguns capítulos e o roteiro está pronto capítulo a capítulo. No tomo 2, os leitores descerão ainda mais fundo nos segredos da Fortaleza, arriscando suas vidas em algo muito maior do que qualquer um poderia imaginar. A ação e o suspense continuarão sendo a alma da história, que trará alguns personagens novos também. Uma nova teia de segredos será desvendada, mas para alcançar a Verdade eles terão que lutar com tudo que tem. 


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Sugestão de leitura para o mês de fevereiro de 2018

Livro: A Fortaleza: Mundo Sombrio
Autor: Day Fernandes 
Gênero: Fantasia / Ficção Científica

Sinopse: O sangue é a única saída.
2070. A escuridão caminha lado a lado com o que restou da raça humana. Após uma guerra nuclear, a vida na superfície terrestre se extinguiu. Habitando gigantescos complexos estruturais subterrâneos, conhecidos como as Fortalezas, os sobreviventes tentam resistir à extinção. Entretanto, na Fortaleza n° 7, um império regado a sangue se ergueu.
Medo, sombras e sacrifícios fazem parte dos dias de Camille. Ainda jovem, ela herdou de seu pai a posição de liderança do grupo de rebeldes da Fortaleza n° 7. Contudo, nem mesmo os diários deixados por ele poderiam tê-la preparado para os segredos que acabaria por escavar. Durante uma missão de resgate, Camille salva a vida de um desconhecido, mudando o destino de si mesma e de toda a raça humana.
Em um mergulho profundo no coração da Fortaleza, ela descobrirá cenários de terror e mentiras. Nesse Mundo Sombrio, o fim pode vir tão rápido quanto uma batida de coração. A diferença entre viver ou morrer consiste em um único obstáculo: enfrentar as sombras dentro e fora de si. E, claro, sobreviver..

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Comunicado!

Por conta de problemas pessoais, tive que dar uma pausa ao projeto, mas já estamos de volta a ativa e em janeiro de 2018 traremos novidades.

Agradecemos a compreensão e contamos com a sua participação.

Atenciosamente,
Arisson Tavares
Coordenador do blog

Palavra do Editor - Agosto de 2017

Nossa sugestão de leitura para o mês de agosto de 2017 foi Não vou mais lavar os pratos, de Cristiane Sobral.

O livro já chamou a atenção antes mesmo de ser aberto, pois o título, que traz o nome do primeiro texto, desperta curiosidade. Trata-se de um mergulho no período da escravidão, mostrando algo do nosso cotidiano por um olhar diferente. Não lavar os pratos, neste caso, representa a Lei Áurea e a liberdade diante do trabalho obrigatório.

Posso dizer que é uma obra que foge da mesmice. Cada poesia tem tema e contexto. As rimas trazem construções divertidas. Encontramos, em cada verso, uma análise do enigmático cenário apresentado na poesia. 

Temas do dia a dia e da vida íntima ganham destaque, como fazer brigadeiro ou até mesmo usar o cabelo Black. A apresentação escrita por Nicolas Behr também desperta o desejo de prosseguir a leitura cheia de críticas sociais. A obra, que é indicada para todos os tipos de públicos, traz fortes reflexões da atualidade, como o trecho: "Ainda não somos livres / Favela é senzala".